segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Salmo 28: Clamor, resposta e alegria no tribunal divino.

Salmo 28: Clamor, resposta e alegria no tribunal divino.

1A ti eu clamo, Senhor,
Minha Rocha;
Não fiques indiferente para comigo.
Se permaneceres calado, serei como os que descem à cova.
2 Ouve as minhas súplicas quando clamo a ti por socorro,
Quando ergo as mãos para o teu Lugar Santíssimo.

3 Não me dês o castigo reservado para os ímpios
E para os malfeitores,
Que falam como amigos com o próximo,
Mas abrigam maldade no coração.
4 Retribui-lhes conforme os seus atos,
Conforme as suas más obras;
Retribui-lhes pelo que as suas mãos têm feito
E dá-lhes o que merecem.
5 Visto que não consideram os feitos do Senhor,
Nem as obras de suas mãos,
Ele os arrasará
E jamais os deixará reerguer-se.

6 Bendito seja o Senhor,
Pois ouviu as minhas súplicas.

7 O Senhor é a minha força
E o meu escudo;
Nele o meu coração confia,
E dele recebo ajuda.
Meu coração exulta de alegria,
E com o meu cântico lhe darei graças.

8 O Senhor é a força do seu povo,
A fortaleza que salva o seu ungido.
9 Salva o teu povo
E abençoa a tua herança!
Cuida deles como o seu pastor
E conduze-os para sempre.

INTRODUÇÃO

Apesar de não está explicitamente declarado o salmo 28 segue a ideia de um tribunal. A referência a um tribunal religioso é constante em boa parte do livro do salmos (Sl 15, Sl 26, Sl 50, Sl 82). Deus é descrito como um rei Juiz que está sentado em seu trono e julga as causas do seus servos e ao mesmo tempo condena a prática dos ímpios. No salmo 28 a referência ao tribunal está implícita. Talvez possa soar estranho a um leitor contemporâneo, mais para um Judeu do antigo testamento não era. Principalmente para um povo que cria piamente que as leis que regiam suas vidas, a lei mosaica, era de origem divina.



Os versos 1 e 2 são uma apelação ao juiz divino para que ouça a causa de seu servo. Dos versos 3 a 5, O salmista pede que O Senhor seja favorável a sua causa e não lhe trate como os ímpios. Segue-se então uma série de acusações contra a figura dos ímpios, indiretamente o salmista expõe sua integridade moral e procura justificar-se diante do Santo Juiz. A partir do verso 6 há uma descontinuidade no salmo, uma mudança brusca de acusações para uma canção de agradecimento pela resposta favorável do Juiz. No verso 7 há outra ruptura. O verso 6 parece ser o verso final desse salmo, ao passo que os versos 7,8 e 9 aparentemente são um acréscimo posterior ao salmo original. Perceba a mudança brusca do tema do salmo a partir do verso 7. Para alguns parece soar estranho a palavra “acréscimo posterior”, Mas isso é mais comum do que se pensa, pois muitos salmos inicialmente eram petições pessoais que foram adaptados para uso no templo. Nesse processo de adaptação para uso no templo o Eu pessoal e suplicante foi relido, principalmente após o cativeiro babilônico onde boa parte dos salmos foram adaptados, para um Eu coletivo e nacional. O salmo que foi escrito por Davi provavelmente vai a te o verso 6. Os versos 7,8 e 9 foram acrescidos por um levita editor para que a figura de Davi fosse generalizada a figura da nação de Israel, perceba que a linguagem estritamente pessoal que prevalece nos versos iniciais, “Rocha minha”, “não emudeças para comigo”, “minha súplicas”, “Eu levantar minha mãos”, etc., é claramente deixada de lado, a partir do verso 8, por expressões de cunho coletivo e nacionalista como: “força de teu povo”, “salva teu povo”, “abençoa tua herança” e “apascenta-os e exalta-os”. Assim o salmo 28 é possivelmente a Junção de um salmo primitivo escrito por Davi entre 1010 e 980 a.c. e um canto levita após o retorno do cativeiro babilônico por volta 600 a 500 a.c. Apesar da evidente descontinuidade do salmo que leva a possibilidade de uma edição posterior, o Salmo pode ser lido como uma unidade perfeita. O trabalho do editor levita após o cativeiro babilônico mantem uma coerência, apesar da mudança da linguagem pessoal para uma coletiva, mantém-se dentro do contexto da fonte Davídica dando ênfase o a deixando ainda mais sensível.
Retornando ao modelo de um tribunal, da fonte primitiva, Após um acusado ser absorvido em seu julgamento civil-religioso, ele deixava um documento escrito na entrada do tabernáculo como testemunho de sua absolvição. É dentro desse costume que Davi escreve sua poesia, fazendo referência a sua vitória no tribunal divino.

Informações.

Autor: Davi / Editor levita.
Data: entre 1010 e 980 a.c., texto primitivo/ entre 600 e 500 a.c., adição e edição.
Esboço.
I - A Apelação inicial v.1,2
II - A Defesa do salmista e a acusação dos ímpios. V.3,4 e 5
III - Agradecimento e acréscimo. V.6,7,8 e 9.


O COMENTÁRIO DO SALMO.

A apelação inicial

O Salmista inicia esse belo salmo com uma súplica para que sua oração seja ouvida. Mas, muito mais que isso, a 2° e 3° linha poética sugerem que caso Deus não intervisse no caso do salmista ele poderia ser condenado no tribunal divino.

1A ti eu clamo, Senhor,
Minha Rocha;
Não fiques indiferente para comigo.
Se permaneceres calado, serei como os que descem à cova.

A ideia é que a causa do salmista envolvia algo que levaria a sua morte como uma falsa acusação diante de um julgamento civil, caso o salmista fosse condenado sua sentença seria a morte por apedrejamento, ou poderia ser uma enfermidade. Assim a imagem do tribunal seria alegórica, e não literal. O tribunal Divino seria aqui uma referência dramática onde Deus é o juiz que escuta a causa do poeta e a julga, determinando a sentença. É nessa alegoria dramática que acreditamos está inserida essa oração.  Só a intervenção divina poderia ajudar o salmista. Os recursos humanos já haviam se esgotado. Assim o salmista brada mais uma vez em desespero ao Deus de Israel.



2 Ouve as minhas súplicas quando clamo a ti por socorro,
Quando ergo as mãos para o teu Lugar Santíssimo.

O Drama alegórico parece, a partir do verso 2, parece se desenrolar no tabernáculo, ou no templo em Jerusalém. Ali estava o trono de Deus e para o trono do Senhor o salmista estende suas mãos de forma suplicante esperando que YHWH tivesse piedade dele, sendo favorável a sua causa.

A defesa do salmista e acusação do ímpios

A morte era a pena mais temida nos tribunais do oriente antigo. Nem toda sentença era a de morte, porém aparentemente o salmista estava passando por alguma enfermidade que o poderia levar a morte. Assim o salmista clama diante do Senhor.

3 Não me dês o castigo reservado para os ímpios
E para os malfeitores,
Que falam como amigos com o próximo,
Mas abrigam maldade no coração.

O Poeta agora começa a expor sua integridade diante de YHWH. Ao mesmo tempo acusa os ímpios no tribunal divino. No A.T. testamento, a integridade moral era condição para que as orações fossem ouvidas. Assim o salmista dispara acusações contra os ímpios, e indiretamente coloca diante de YHWH sua integridade moral.

4 Retribui-lhes conforme os seus atos,
Conforme as suas más obras;
Retribui-lhes pelo que as suas mãos têm feito
E dá-lhes o que merecem.
5 Visto que não consideram os feitos do Senhor,
Nem as obras de suas mãos,
Ele os arrasará
E jamais os deixará reerguer-se.

A imprecação, ou juramento de maldição litúrgica, era uma prática comum tanto no contexto de Israel (Js 7.25, o caso de Acã). Assim não devemos estranhar as palavras de maldição contra os ímpios proferidas nos versos 4 e 5, pois eram elemento comuns tanto no contexto de Israel quanto no contexto do antigo oriente.

Agradecimento e Acréscimo

O Verso 6 é o mais complicado do salmo, no sentido de crítica da fonte, Pois ele quebra a continuidade da oração de imprecação dos versos anteriores. Ficando complicado entende-lo como um epilogo do salmo original de Davi (século X a.c.) ou como prólogo da inserção (século VI a.c.) por parte do editor levita. Pela quebra de continuidade novamente do salmo no verso 7, preferimos entende-lo como um epílogo do salmo anterior primitivo. Assim Davi expressa a certeza de absolvição no tribunal divino, Pois Deus manifestou-se favorável a sua causa mortal. De posse de vitória o salmista glorifica e Bendiz ao Deus de Israel.   

6 Bendito seja o Senhor,
Pois ouviu as minhas súplicas.

O Salmo primitivo de Davi se encerra no verso 6. A partir de agora o Editor do período do pós cativeiro conjuga outro salmo ao verso 6 com a finalidade de que a oração de Davi fosse generalizada a um canto nacional. De sorte que a enfermidade de Davi era equivalente a enfermidade do povo de Israel. Da mesma forma a petição de Davi no tribunal divino agora era a petição de todo o povo. Mas tal inserção não é feita de forma brusca e sem esmero. Pelo contrário o editor pega gancho nas expressões pessoais de Davi e continua o salmo continuando a oração de agradecimento do verso 6.

7 O Senhor é a minha força
E o meu escudo;
Nele o meu coração confia,
E dele recebo ajuda.
Meu coração exulta de alegria,
E com o meu cântico lhe darei graças.

Perceba que O drama muda de cenário. Não temos mais um servo suplicante no tribunal divino, Mas um guerreiro vitorioso numa batalha e que expressa sua confiança no senhor, seu escudo na batalha, a força de seus braços na luta da oração, o reforço quando a luta estava apertada. A alegria pela prece ouvida e respondida é tão grande que não há como conter. Então o coração transborda de Louvor e os Lábio são inundados. A ação de graças é uma torrente, um manancial de Louvor ao Deus de Israel.

8 O Senhor é a força do seu povo,
A fortaleza que salva o seu ungido.
9 Salva o teu povo
E abençoa a tua herança!
Cuida deles como o seu pastor
E conduze-os para sempre.

Perceba a mudança da linguagem pessoal dos versos 7 para uma linguagem coletiva nos versos 8 e 9. Há um convite expresso por parte desse salmo a toda comunidade de Israel no pós exilio a louvar ao Senhor que teve misericórdia de Davi, “seu ungido”, e terá de todo o seu povo Israel, “A herança de YHWH”, o rebanho de Deus. Assim o editor conclui seu acréscimo convidando o povo a confiar em Deus, da mesma forma que Davi confiou, pois o Senhor escuta as orações de seu povo.

CONCLUSÃO.


Esse canto foi muito usado nas festas sagradas de Israel depois do cativeiro. O exemplo de Davi que confiou no Senhor e buscou no tribunal divino a solução para sua causa era um exemplo vivo e claro para que todo Israel confiasse no Senhor. Da mesma forma nós, servos contemporâneos. Podemos confiar na resposta da boca de Deus, e aprender a levar ao tribunal divino todas as nossas causas. Assim poderemos sair vitoriosos, como um herói de guerra que celebra a Deus pela vitória conquistada através da oração. 


terça-feira, 28 de junho de 2016

Salmo 95 – Um convite a adoração com o coração quebrantado.

Salmo 95 – Um convite a adoração com o coração quebrantado.


1 Vinde, cantemos ao SENHOR;
    Jubilemos à rocha da nossa salvação.
2 Apresentemo-nos ante a sua face com louvores,
    E celebremo-lo com salmos.
3 Porque o Senhor é Deus grande,
   E Rei grande sobre todos os deuses.
4 Nas suas mãos estão as profundezas da terra,
   E as alturas dos montes são suas.
5 Seu é o mar, e ele o fez,
   E as suas mãos formaram a terra seca.

6 Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos;
   Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou.
7 Porque ele é o nosso Deus,
   E nós povo do seu pasto
   E ovelhas da sua mão.

   Se hoje ouvirdes a sua voz,
8 Não endureçais os vossos corações,
    Assim como na provocação
    E como no dia da tentação no deserto;
9 Quando vossos pais me tentaram,
   Me provaram, e viram a minha obra.
10 Quarenta anos estive desgostado com esta geração, e disse:

É um povo que erra de coração,
E não tem conhecido os meus caminhos.

11 A quem jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso.



INTRODUÇÃO

O salmo 95 foi usado pelos judeus no pós cativeiro babilônico, nó século VI A.C. Mas especificamente era usado nos sábados. Quanto a data de sua composição é complicado definir. O Fenômeno do aparecimento da sinagoga no pós cativeiro, talvez tenha difundido o uso desse salmo, pois o escritor da epístola aos hebreus o cita para sua audiência em Hb 3.7-11. Tal referência na carta aos hebreus mostra o conhecimento público desse salmo.


O salmo 95 pode ser dividido em duas partes. Na primeira, que vai do verso 1 ao 7, um levita, ou coro de levitas, que convida o público presente em Jerusalém a louvar ao senhor. Na segunda parte alguém, provavelmente o mesmo levita, pronunciava um oráculo Divino, reproduzindo a vós divina, estimulando o público a uma adoração sincera e contrita.


INFORMAÇÕES:

DATA: desconhecida.
CONTEXTO HISTÓRICO: O salmo 95 era usado na celebração do sábado do Senhor após o cativeiro babilônico. Foi um salmo que tornou-se bastante conhecido devido ao aparecimento das sinagogas.
  

O SALMO


1° CONVITE A ADORAÇÃO


1 Vinde, cantemos ao SENHOR;
Jubilemos à rocha da nossa salvação.

                   Esse é o primeiro convite feito pelo mestre do canto, o levita responsável por liderar o louvor em Jerusalém. Ele descreve Deus como a rocha da salvação. O interessante é que Jerusalém estava construída sobre o monte Sião. No contexto de invasões militares feitas exclusivamente a pé, ter uma cidade erguida sobe um monte era uma estratégia de defesa. Mas o mestre do canto deixa claro: “O Senhor é a nossa verdadeira rocha da salvação”. O povo é convidado a louvar o Senhor pois ele é quem realmente protege o seu povo. Continua o mestre do canto:

2 Apresentemo-nos ante a sua face com louvores,
E celebremo-lo com salmos.
3 Porque o Senhor é Deus grande,
E Rei grande sobre todos os deuses.


               Estar em Jerusalém é como estar diante do rosto do Senhor. O Canto de louvor deve ser Apresentado diante do Senhor como uma oferta, pois ele é o verdadeiro Deus. Afirma o mestre do Canto “ele é Deus grande”. A palavra hebraica traduzida por grande é “gadowl”. A ideia que essa palavra passa é de alguém que se destaca das outras por um atributo físico notável, como Saul é descrito como o mais alto entre os jovens de sua época (1 Sm 9.2). Assim Deus se destaca acima dos outros deuses por seu atributo de Criador.

4 Nas suas mãos estão as profundezas da terra,
E as alturas dos montes são suas.
5 Seu é o mar, e ele o fez,
E as suas mãos formaram a terra seca.

Deus destaca-se dos outros deuses pela a extensão do seu domínio, representada por sua mão que consegue alcançar os cantos mais profundos e mais altos da terra ao mesmo tempo, pois ele formou a terra. A extensão do seu grande poder é motivo de sobra para louvarmos ao Deus grande.


2° CONVITE A ADORAÇÃO.


O mestre do canto faz um segundo convite a plateia presente em Jerusalém:

6 Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos;
Ajoelhemos diante do Senhor que nos criou.
7 Porque ele é o nosso Deus,
E nós povo do seu pasto
E ovelhas da sua mão.

O Primeiro convite enfoca as qualidades notáveis de Deus, sua proteção e a extensão de seu poder. Agora, o segundo convite foca-se nas atitudes do adorador diante de um Deus tão notável. O Paralelo sinomico é perfeito nos verbos prostrar e ajoelhar. A justificativa é simples: “ele é o nosso Deus”. As mãos de Deus, que o destaca dos outros deuses, estão sobre o seu povo guiando e guardado.


O CONVITE FINAL A UMA ADORAÇÃO SINCERA E CONTRITA.


O mestre do canto se coloca na posição de Deus e emite um oráculo:

Se hoje ouvirdes a sua voz,
8 Não endureçais os vossos corações,
Assim como na provocação
E como no dia da tentação no deserto;
9 Quando vossos pais me tentaram,
Me provaram, e viram a minha obra.



A Oraculo divino adverte o povo, presente na assembleia do sábado, que a adoração a Deus deve ser seguida de reverencia e obediência a sua palavra. A sensibilidade do coração para ouvir o oráculo divino é o requisito básico para uma adoração sincera conforme adverte o mestre do canto. O louvor a Deus agora é seguido de profunda reflexão sobre as atitudes pessoais de cada adorador. O Exemplo negativo dos antepassados do povo de Israel é trazido à tona:


10 Quarenta anos estive desgostado com esta geração, e disse:

É um povo que erra de coração,
E não tem conhecido os meus caminhos.

11 A quem jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso.


As palavras do oráculo divino se tornam duras, pois o Senhor diz claramente que suportou o povo por quarenta anos. O coração do povo era inconstante diante de IHWH. Por consequência eles não entraram na terra santa. Porém o povo a quem o oráculo divino foi dirigido tinha a oportunidade de estar em Jerusalém, o descanso do Senhor, a rocha que o Senhor escolhera para colocar seu nome. Está era uma oportunidade que não poderia ser jogada fora.


CONCLUSÃO


            É um privilégio está louvar ao Senhor na presença da sua face. O salmo 95 destaca isso. Jamais devemos nos esquecer disso e louva-lo com um coração sincero, contrito e submisso. Afim de não repetirmos os erros de Israel durante a sua peregrinação no deserto.

Tomai precaução, meus irmãos, para que ninguém de vós venha a perder interiormente a fé, a ponto de abandonar o Deus vivo.
Hebreus 3:12






quinta-feira, 23 de junho de 2016

SALMO 116 - Gratidão pela cura da enfermidade

SALMO 116 -  Gratidão pela cura da enfermidade



Eu amo o Senhor,
Porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica.
Ele inclinou os seus ouvidos para mim;
Eu o invocarei toda a minha vida.

As cordas da morte me envolveram,
As angústias infernais vieram sobre mim;
Aflição e tristeza me dominaram.
Então clamei pelo nome do Senhor: "Livra-me, Senhor! "

O Senhor é misericordioso e justo;
O nosso Deus é compassivo.
O Senhor protege os simples;
Quando eu já estava sem forças, ele me salvou.

Retorne ao seu descanso, ó minha alma,
Porque o Senhor tem sido bom para você!

Pois tu me livraste da morte,
Os meus olhos, das lágrimas
E os meus pés, de tropeçar,
Para que eu pudesse andar diante do Senhor na terra dos viventes.

Eu cri, ainda que tenha dito: "Estou muito aflito”.
Em pânico eu disse: "Ninguém merece confiança".

Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo?
Erguerei o cálice da salvação
E invocarei o nome do Senhor.
Cumprirei para com o Senhor os meus votos,
Na presença de todo o seu povo.
O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis.

Senhor, sou teu servo,
Sim, sou teu servo,
Filho da tua serva;
Livraste-me das minhas correntes.

Oferecerei a ti um sacrifício de gratidão
E invocarei o nome do Senhor.
Cumprirei para com o Senhor os meus votos,
Na presença de todo o seu povo,
Nos pátios da casa do Senhor,
No seu interior, ó Jerusalém! Aleluia!



INTRODUÇÃO

O salmo 116 narra a gratidão de alguém que esteve à beira da morte. O poeta descreve a si mesmo como alguém que foi envolvido pelas “cordas da morte”, como alguém que foi possuído de tão grande angustia que se viu dentro do próprio inferno (heb. Sheol). Pela descrição de seu sofrimento o salmista esteve bem próximo da morte devido a uma terrível enfermidade. Ele escreve esse poema canção para agradecer a Deus pela cura alcançada.


Data

O salmo tem um tom pessoal, iniciado em primeira pessoa, nos primeiros versículos. Além disso o v.13 sugere um banquete em tom religioso. Essas duas características são peculiares ao período do Juízes, Onde o lamento pessoal tinha bastante ênfase e os sacrifícios, seguidos de banquetes, familiares eram muito comum. Assim podemos inicialmente atribuir a data desse salmo entre 1300 A.C. a 1100 A.C. Porém o salmo vai tomando forma coletiva, a ideia de uma festividade religiosa vai crescendo ao longo do salmo. Os salmos de corporações levitas, como os filhos de corá e os filhos de Asafe só vão aparecer no período áureo da monarquia de Judá. O v.19 faz uma referência clara a Jerusalém. Assim podemos especular outra data para a composição desse salmo que seria durante o período da monarquia, 1010 A.C. a 600 A.C. Outra coisa que se deve notar é a expressão “Louvai ao Senhor”, ou aleluia, no verso final do salmo. Essa expressão aparece também no final do salmo 113, 115 e 117. O que dar a entender que o salmo 116 foi editado, ou seja, teve um acréscimo, provavelmente por um levita. É notório que tais acréscimos nos salmos foram bastante comum no período que Israel retornou do cativeiro, no século VI A.C. Assim é bastante provável que um salmo primitivo e mais curto, que datava do período antes da monarquia foi adaptado para o uso coletivo nos dias da monarquia, sofrendo uma adição final no período após o cativeiro. Assim podemos atribuir a data final para o salmo entre 500 A.C. a 400 A.C. É provável que o salmo primitivo fosse somente até o verso 14 e os versos de 15 a 19 sejam o acréscimo redacional.


Contexto histórico

Mais do que uma cura física, O salmo 116 celebra a cura da nação de Israel que se deu através da volta do cativeiro babilônico. Essa provavelmente tenha sido a intenção do redator ao adaptar o salmo 116 para uso coletivo em Jerusalém. A festa que ele melhor se adéqua é a festa dos tabernáculos, que comorava a saída do Egito e o estabelecimento de Israel como uma nação. Esse sentimento de libertação foi reforçado com evento histórico mais recente, o retorno do cativeiro babilônico. O verso 19 mostra que esse salmo foi adaptado para ser usado na cidade de Jerusalém. Sendo assim o contexto histórico está relacionado com as festas sagradas comemoradas na cidade de Jerusalém no pós cativeiro. Este é um canto onde todo povo presente nas celebrações em Jerusalém podiam agradecer a Deus pela cura da nação.


O salmo

A angustia se transformou em amor. O salmista inicia declarando seu amor a Deus.

Eu amo o Senhor,
Porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica.
Ele inclinou os seus ouvidos para mim;
Eu o invocarei toda a minha vida.
Salmo 116.1,2

O seu amor era devido a grande vitória que o Senhor lhe dera. Deus dedicou sua atenção ao seu servo. Quando aflito, o poeta orou. O senhor prontamente ouviu sua oração. A resposta veio em forma de cura e o salmista alcançou a benção que ele tanto buscava. Mas entre a oração e a resposta houve um processo angustiante. Assim descreve o salmista sua angustia:

As cordas da morte me envolveram,
As angústias do Sheol vieram sobre mim;
Aflição e tristeza me dominaram.
Então clamei pelo nome do Senhor: "Livra-me, Senhor! "
Salmos 116:3,4

Como cordas, a morte envolveu a alma do salmista. Ele presenciou a morte bem de perto em sua enfermidade. Era como se Sheol (inferno) se apoderasse da sua alma através de angustia e depressão. Aflição e tristeza haviam se apoderado de sua alma, como um guerreiro se apodera de uma cidade debilitada e fraca. Não havia outro caminho senão clamar o nome de IHWH, o eterno Deus.

O Senhor é misericordioso e justo;
O nosso Deus é compassivo.
O Senhor protege os simples;
Quando eu já estava sem forças,
Ele me salvou.
Salmos 116:5,6

Deus manifestou a sua misericórdia e concedeu vitória ao poeta aflito. O salmista destaca a paciência de Deus em ouvir sua oração desesperada. Assim o Senhor salvou a alma do salmista da angustia e da depressão, enquanto curava seu corpo físico. Então o salmista conversa consigo:

Retorne ao seu descanso, ó minha alma,
Porque o Senhor tem sido bom para você!
Pois tu me livraste da morte,
Os meus olhos, das lágrimas
E os meus pés, de tropeçar,
Para que eu pudesse andar diante do Senhor na terra dos viventes.
Salmos 116:7-9

A depressão causada por uma situação, que humanamente é impossível de ser resolvia, pode levar o homem a loucura ou mesmo a cometer barbaridades. Por isso o salmista destaca tanto a sua cura interior, pois a sua enfermidade física era menos letal que a sua enfermidade psicológica. O salmista pede perdão por ter falado do que não sabia. Quem sabe ele se desesperou com a sua situação e abriu a boca de forma impensada.

Eu cri, ainda que tenha dito: "Estou muito aflito".
Em pânico eu disse: "Ninguém merece confiança".
Salmos 116:10,11

Ele ficou descrente em relação ao auxilio humano. Não confiava em homens durante sua enfermidade. Os homens provavelmente o desenganaram. Não restava mais solução humana para sua causa. Assim ele descreve sua fala com um tom de pânico intenso. Mas nessa hora, em que pensamos que tudo está perdido, que o Senhor se manifesta e dar-nos a vitória. Ficamos tão impressionados com o trabalhar de Deus que usamos as palavras do salmista:


Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo?

Erguerei o cálice da salvação
E invocarei o nome do Senhor.
Cumprirei para com o Senhor os meus votos,
Na presença de todo o seu povo.
Salmos 116:12-14

Algumas versões dizem “beber o cálice da salvação”, mas a tradução correta seria "levantar o cálice da salvação”, como fazem a NVI e BKJA. A palavra no texto hebraico é “nasa” ou “nasah”, que significa literalmente erguer, levantar, queimar, carregar ou tirar.
Nos dias que precederam o estabelecimento da monarquia, o período dos Juízes, O patriarca da família exercia um papel muito importante. Ele era como um sacerdote do lar. Os sacrifícios familiares eram muito comum. 


Um exemplo está na casa de Jessé, quando Samuel vai em busca de Davi, sobre o pretexto de sacrificar ao Senhor (1 Sm 16.1-2). Os sacrifícios familiares eram muito comuns nesse período e geralmente era o patriarca da família que devia iniciar e proceder com tais sacrifícios. Depois seguia-se um banquete em ação de graças ao senhor, com o a carne do sacrifício. “Erguer o cálice da salvação” era um ato simbólico no qual o patriarca da família fazia afim de dedicar o banquete como uma forma de agradecer a Deus pelas bênçãos. Dessa forma dava-se início ao banquete familiar que era seguido pela narração das histórias da saída de Israel do Egito.


 Assim o salmista declara que iria “erguer o cálice da salvação”, em outras palavras, iria tornar pública a sua gratidão ao senhor. Essa ideia é reforçada pela expressão “Cumprirei os meu votos na presença de seu povo”. Então continua o salmista.


O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis.
Salmos 116:15

Deus não se alegra com a aflição e morte seus filhos, como alguém pode apregoar. O sofrimento e a morte são consequências do pecado que entrou no mundo devido a desobediência. O salmista lembra ao senhor que o servira desde de sua meninice. Daí muitos especularem que esse salmo fora escrito por Ezequias, Mas não temos evidencias firmes quanto a isso.  


Senhor, sou teu servo,
Sim, sou teu servo,
Filho da tua serva; livraste-me das minhas correntes.

Oferecerei a ti um sacrifício de gratidão
E invocarei o nome do Senhor.
Cumprirei para com o Senhor os meus votos,
Na presença de todo o seu povo,
Nos pátios da casa do Senhor,
No seu interior, ó Jerusalém! Aleluia!
Salmos 116:15-19


A ideia final é de uma grande festa na cidade Jerusalém. O Salmista curado de sua doença mortal, podia voltar a ir a Jerusalém celebrar com todo o povo nas festas sagradas a bondade do Senhor. Sacrifícios de gratidão ou sacrifícios de louvor são na verdade as ofertas de manjares que não eram obrigadas por lei, Mas deveria ser feitas de forma voluntária. Assim o salmista publica que está louvando ao Senhor de forma voluntária, por gratidão, devoção e sinceridade. Não por legalismo.






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quarta-feira, 23 de março de 2016

SALMO 110 - A BENÇÃO SACERDOTAL SOBRE O REI QUE VAI A GUERRA.

SALMO 110 - A BENÇÃO SACERDOTAL SOBRE O REI QUE VAI A GUERRA.


Disse o SENHOR ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita,
Até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.

O Senhor enviará o cetro da tua fortaleza desde Sião,
Dizendo: Domina no meio dos teus inimigos.

O teu povo será mui voluntário no dia do teu poder;
Nos ornamentos de santidade,
Desde a madre da alva,
Tu tens o orvalho da tua mocidade.

Jurou o Senhor, e não se arrependerá:
Tu és um sacerdote eterno,
Segundo a ordem de Melquisedeque.

O Senhor, à tua direita, ferirá os reis no dia da sua ira.
Julgará entre os gentios;
Tudo encherá de corpos mortos;
Ferirá os cabeças de muitos países.
Beberá do ribeiro no caminho,
Por isso exaltará a cabeça.



INTRODUÇÃO




Muitas vezes somos levados a ver logo Cristo de cara nesse salmo. Esquecemos porém que as primeiras pessoas que receberam e usaram esse salmo não tinham a menor ideia acerca de jesus. Eles vinham sim o rei de Judá, da linhagem real de Davi, como figura chave nesse salmo, Dado o nível de revelação que eles tinham em sua época. Os apóstolos por sua vez, estiveram no período ápice da revelação divina e o Espirito Santo pode abrir seus olhos afim de que eles enxergassem o messias, Jesus no caso.
Esse salmo é uma da várias peças reais escritas no período áureo da monarquia de Judá e Israel (que foi de 1010 A.C. a 587 A.C). Nessa peça vemos a benção de um sacerdote sobre o rei da linhagem de Davi que se prepara para uma guerra. Apesar de ter em seu titulo “um salmo de Davi”, é certo que não foi Davi quem escreveu este salmo. O verso 1 deixa claro que uma terceira pessoa fala que Deus, o primeiro senhor, faz promessas ao rei, o segundo senhor. Essa  terceira pessoa ministra as bênçãos divinas sobre o rei. A expressão hebraica no topo desse salmo, em hebraico, pode ser traduzida tanto “de Davi” como “para Davi”. No contexto do salmo, obviamente a tradução correta seria “para Davi”. Ou uma melhor tradução, conforme o contexto sugere, para o rei davidico, ou da linhagem de Davi, como algumas versões contemporâneas já fazem. Em suas expressões, esse salmo se aproxima muito do salmo 72. Podendo ter sido composto assim para Salomão em 960 A.C. Porém o reinado de Salomão foi um reinado predominantemente pacífico, havendo ameaças de guerras somente em seu final e devido a apostasia de Salomão, o que seria incoerente com a ideia do salmo. Todavia se levarmos em conta o longo período de paz que Salomão gozou em seu reinado, poderíamos ver sim esse salmo dentro do contexto de seu reinado. Sendo essa poesia uma expressão desse período de prosperidade e paz. Mas, independe da data pontual em que ele foi escrito, está claro que um sacerdote ou um profeta ministra a benção sobre um rei da linhagem de Davi, que se prepara para sair à frente de seu exercito, para uma batalha.


COMENTÁRIO.

Deus é o grande general a frente do exercito.  O salmo inicia com o sacerdote indicando que Deus é quem toma a frente do exercito do rei e resolve comandar a batalha:

O Senhor disse ao meu Senhor:
"Senta-te à minha direita
Até que eu faça dos teus inimigos
Um estrado para os teus pés".
Salmos 110:1

 

Deus literalmente diz para o rei: “se assente que eu vou lutar contra o seus inimigos”. O rei é colocado em lugar de destaque, a direita de Deus, e é convidado a contemplar o Senhor dos exércitos em plena atividade lutando contra o exercito inimigo. Tudo que o rei tem que fazer e descansar e assistir o Senhor pelejar por ele.

O exercito do rei sai do monte Sião em direção ao campo de batalha. Deus coloca o cetro da autoridade divina nas mãos do rei para governar todas as regiões ao redor.

O Senhor estenderá o cetro de teu poder desde Sião,
e dominarás sobre os teus inimigos!

Através das palavras do sacerdote, podemos ver a imagem de YHWH, o Deus todo poderoso, estendendo seu cetro, como faziam os reis no oriente antigo, e ordenando ao rei descendente de Davi: “Domine todos os seus inimigos”. Estava declara profeticamente a vitória do rei sobre todos os inimigos do povo de Deus.
A benção divina sobre o rei atrai um numeroso exercito que voluntariamente se apresenta para lutar ao lado do rei:

Quando convocares as tuas tropas,
O teu povo se apresentará voluntariamente.
Trajando vestes santas,
Desde o romper da alvorada os teus jovens virão como o orvalho.

Os moradores de Jerusalém vêm a presença de Deus na vida de seu monarca, e atendem  a convocação do rei se apresentando voluntariamente para a grande batalha. Eles confiam no Senhor dos exércitos que não irá desamparar o seu rei. A benção sacerdotal projeta o exercito de Israel como sacerdotes e levitas que executam a vontade divina. Eles são descritos como “trajando vestes santas”, literalmente significa vestes de sacerdotes. Prontos e precisos se apresentam como o orvalho que vem com a brisa do fim da tarde. Um exército formado por jovens valorosos que seguem seu amado rei. O rei é descrito como um sacerdote a frente do exército, visto que os seus soldados são descritos como quem usam vestes santas:


Jurou o Senhor, e não se arrependerá:
Tu és um sacerdote eterno,
Segundo a ordem de Melquisedeque.
Salmo 110.4

Melquisedeque é uma figura muito famosa no A.T. Ele era tanto rei de salém como sacerdote (Gn 14.18-20). Tal fato era proibido em Israel, estava vedado ao rei o oficio sacerdotal. Mas dentro de uma licença poética o salmista pinta o rei como um representante de divino e o descreve através da figura de Melquisedeque a quem Abrão oferece seus dízimos e prestou reverencia. No novo testamento, no ápice da revelação divina, O escritor aos Hebreus logo reconhece essa imagem na pessoa de Cristo Jesus (Hb todo capitulo 7)
O senhor Luta as batalhas daqueles que são fiéis a ele:

O Senhor, à tua direita, ferirá os reis no dia da sua ira.
Julgará entre os gentios;
Tudo encherá de corpos mortos;
Ferirá os cabeças de muitos países.
Salmo 110.5,6

Em um verdadeiro exagero poético o sacerdote poeta vê Toda a terra subjugada ao rei descendente de Davi. Mas que um exagero é uma profecia que será cumprida na figura de Jesus. O senhor subjugará todas as nações aos seus pés.
Após cumprir a vontade de YHWH de estender as fronteiras do reino de Deus, o rei pode quebrar seu Jejum e beber água das fontes que estavam no caminho.

Beberá do ribeiro no caminho,
Por isso exaltará a cabeça.

O ato de beber água nas terras inimigas é descrito como um ato de bravura e coragem (1 Cr 11.17-19). Assim o rei torna pública a benção divina por ter vencido a guerra “bebendo a água da fonte do inimigo na presença de todo seu exercito”. Esse ato público e um sinal de triunfo por parte do rei vitorioso e uma humilhação para tropa inimiga.  


CONCLUSÃO

 

Esse salmo humanamente é produto das bênçãos ministradas sobre os reis da linhagem de Davi que saiam para guerrear. Jerusalém é visto como a capital do reino de Deus e o rei o representante legal de Deus na terra. Mas esse salmo também é uma profecia acerca do reino do messias de Deus: Jesus Cristo. Que um dia raiará nas nuvens cercado por seu exercito celestial e implantará o seu reino milenial entre os homens sendo ele mesmo sacerdote e rei para Toda humanidade. As bênçãos desse salmo podem ser estendidas as nossas vidas também, pois a cada dia enfrentamos batalhas pessoais. Devemos ter em mente que Deus também tem interesse em nas nossas batalhas diárias. Devemos crer que o Senhor também está ao nosso Lado no dia a dia e durante as duras lutas que enfrentamos a nível pessoal.