quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

SALMO 137 – A CANÇÃO FESTIVA DO EXÍLIO

SALMO 137 – A CANÇÃO FESTIVA DO EXÍLIO


Junto aos rios da Babilônia,
Ali nos assentamos e choramos,
Quando nos lembramos de Sião.

Sobre os salgueiros que há no meio dela,
Penduramos as nossas harpas.
Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção;
E os que nos destruíram, que os alegrássemos,
Dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião.

Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?
Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém,
Esqueça-se a minha direita da sua destreza.
Se me não lembrar de ti,
Apegue-se me a língua ao meu paladar;
Se não preferir Jerusalém à minha maior alegria.

Lembra-te, Senhor, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém,
Que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces.
Ah! Filha de babilônia, que vais ser assolada;
Feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.
Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras.
Salmos 137:1-9



DATA E CONTEXTO HISTÓRICO.





Esse salmo traz uma reflexão sobre um momento de tristeza ao relembrar uma das épocas mais sombrias da história de Israel. Seu cativeiro na babilônia. Porém, a perspectiva é de um momento presente festivo. A ideia é que durante o cativeiro babilônico não havia alegria para cantar os lindos hinos de Jerusalém. Porém, no contexto atual do poeta, havia motivos de sobra para festejar, pois seus pés estavam pisando o solo da cidade santa. O poeta estava em Jerusalém, muito provavelmente celebrando com o povo de Deus a festa dos tabernáculos. Festa que relembrava os 40 anos de peregrinação de Israel no deserto assim que saiu do Egito, aproximadamente 1400 A.C. O salmo muito provavelmente foi escrito por volta 400 A.C. e o retorno da primeira leva de Judeus da babilônia se deu em 543 A.C. Sendo assim o regresso da babilônia estava mais fresco na mente do que a saída do Egito. Dando a festa dos tabernáculos um significado mais palpável para o povo que celebrava. Por isso a lembrança inicial do cativeiro babilônico, no inicio dessa canção, equivalia à saída do povo do Egito.



UM INSTANTE DE REFLEXÃO


Alegre o povo comemorava a festa da peregrinação ou a festa dos tabernáculos. Mas em um dado momento o povo silenciava as canções festivas. Um espirito reflexivo tomava toda a nação presente em Jerusalém e que estava diante do templo. Uma voz altiva e melancólica gritava no meio do povo:


1 SENTADOS JUNTO AOS rios de Babilônia chorávamos,
2 Lembrando de Jerusalém.
Pendurávamos os nossos instrumentos musicais,
As harpas e as liras, nos galhos dos salgueiros.


O povo volta a sua mente para um episódio que ocorreu cerca de 200 anos antes: a queda e a destruição de Jerusalém pelo exercito babilônico. Que culminou com o cativeiro da elite real, e dos técnicos artesãos e ferreiros de Jerusalém. Boa parte da nação de Israel foi levada cativa. ISSO lembrava e deixava mais vivo o sentimento de outro acontecimento histórico: a saída das doze tribos do Egito e sua peregrinação de 40 anos pelo deserto no século XV A.C. Esse era o motivo da celebração da festa dos tabernáculos. Relembrar que os pais da nação habitaram em tendas e foram peregrinos durante quarenta anos. Esse sentimento era equivalente à perda de Jerusalém na invasão babilônica.



As canções de Jerusalém eram exclusivas para a cidade. A formosa cidade de Deus era a motivação de tão grande alegria daquele povo na festa sagrada. Assim expressa o poeta:


3 E para aumentar nossa dor,
Os babilônios pediam para cantarmos as canções alegres
Que faziam parte do culto em Jerusalém.

4 Mas como!
Como cantar os hinos dedicados ao Senhor nessa terra estranha,
Onde os homens nos maltratam e castigam?



A CANÇÃO SE VOLTA PARA JERUSALÉM.


A santa cidade torna-se o centro da celebração. Os cantos de alegria retornam depois do momento de reflexão. O espirito nacionalista do povo é aguçado. Todo povo em voz uníssona declara seu amor pela morada do altíssimo, Jerusalém a cidade santa.


5 Se me esquecer de Jerusalém
Quero que minha mão direita fique seca
E incapaz de tocar a harpa.
6 Se não preferir Jerusalém a tudo que mais me alegra,
Quero que minha língua fique presa
E nunca mais eu possa cantar.




O som da harpa se mistura as vozes de júbilo. A canção torna-se em oração e o canto volta-se para o Senhor e em tom de um espirito nacionalista efervescente o povo clama:


7 Ó Senhor,
Não deixes passar sem castigo 
A maldade dos edomitas que atacaram Jerusalém
Depois que a cidade foi destruída pelos exércitos de Babilônia,
Dizendo: "Vamos arrasar tudo o que sobrou!".



O CANTO SE TORNA PROFÉTICO.


Alguém pode pensar que esse espirito bélico e de vingança era uma forma de propagar o ódio pelos outros povos não Judeu. Porém entendam que essa expressão é uma alusão as profecias de Ezequiel, conforme Ez 35. Esse profeta viveu e profetizou durante o cativeiro da babilônia. E profetizou exatamente as margens do rio Quebar, um dos rios da babilônia como citado no verso 1. Ele profetizou não só contra Edom, mas contra todas as nações da época. Sendo assim a expressão acima se refere a todas as nações da época. Por isso o poeta estende o julgamento divino a babilônia.


8 E você, Babilônia, será completamente destruída!
Bendito seja o homem que vingar as horríveis maldades que você cometeu contra Israel.
9 Bendito seja o homem que atacar as pequenas cidades em volta de Babilônia
e destruir todas elas!


Babilônia representa todo o sistema corrompido e imoral daquela época. Assim o salmo torna-se escatológico. Apontando para a esperança que o povo Judeu tinha que um dia Deus iria julgar todas as nações, assim como julgou o seu próprio povo Israel.
Devemos entender esses últimos versos como a esperança poética do Juízo vindouro sobre o mundo imoral e profano.


Conclusão:


Relembrar um evento passado às vezes pode ser doloroso. Porém, às vezes é necessário para dar significado ao presente e relembrar o futuro que esta por vir. Essa era a intenção dessa canção festiva no festival das cabanas. Fazer o povo refletir, não só sobre o passado, mas também sobre o futuro e que Deus de Israel, que havia escolhido Jerusalém para sua santa morada, Um dia iria julgar todas as nações do mundo devido a sua imoralidade e impiedade. Assim como fizera com Jerusalém. 



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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Salmo 126 - O festival da esperança em dias de crise.

Salmo 126 - O festival da esperança em dias de crise.


Salmo 126

1 QUANDO O SENHOR libertou os judeus da escravidão,
   Nossa vida parecia um sonho!
2 Ríamos e cantávamos sem parar, de tanta alegria!
   E muitas nações, por toda a terra, reconheciam:
  "Que grande milagre o Senhor fez para os judeus!"

3 É verdade! O Senhor fez grandes milagres por nós,
   E por isso estamos tão felizes!

4 Ó Senhor, enche novamente a nossa vida de bênçãos,
   Como as chuvas do inverno enchem os riachos secos do sertão, de Judá.

5 Quem planta as sementes chorando
   Colherá as espigas com gritos de alegria.
6 Quem sai com a cesta de sementes chorando enquanto anda,
   Voltará carregado de feixes de espigas, gritando de alegria!



Contexto histórico e data.


Esse salmo muito provavelmente foi usado durante os festivais da colheita do povo de Israel, pois encaixa perfeitamente nessa situação de culto a YaHWeH, dado os versos 4,5 e 6, que evidenciam uma situação de colheita. Na festa da colheita, celebrava-se as bênçãos de Deus derramadas sobre a produção agrícola do ano vigente conforme prescrevia a lei de Moisés (Ex 23,14-17). Essa festa era precedida, 50 dias antes, pela festa das primícias. No novo testamento essa festa ficou conhecida como a festa do pentecostes (festa dos 50 dias).



Devido a sua referencia ao retorno do cativeiro babilônico no verso 1, esse salmo muito provavelmente foi escrito próximo do ano 400 A.C., ou mesmo no período dos Macabeus. Sendo dessa forma um dos últimos salmos a ser escrito.
Apesar de a poesia ter um tom inicial festivo e alegre, ela trata de uma realidade desfavorável. A partir do verso 4, A situação real é revelada. Judá estava passando por uma forte seca que provavelmente prejudicaria as colheitas. Mas o salmista parece crer contra a esperança nesse salmo, pois ele confia que suas lágrimas iriam irrigar toda a terra. Não que ele tivesse tantas lágrima para tal, isto seria humanamente impossível, mas que o SENHOR atenderia as orações de seu povo e transformaria as suas lágrimas em uma torrente de bênçãos sobre a terra que estava seca.
Israel era um povo que vivia essencialmente de sua produção agrícola. Principalmente depois do cativeiro babilônico, pois a nação havia perdido sua autonomia politica estando debaixo das ordens dos grandes impérios como persa, grego, selêucida e romano. Eles dependiam quase que exclusivamente da agricultura. Um longo período de falta de chuvas e seca, como é descrito no verso 4, trazia uma perspectiva sombria e desoladora sobre aquele povo.



A lembrança de um milagre recente. 


O salmista volta os olhos a um passado recente e contempla O grande milagre operado por Deus, revelado ao profeta Jeremias (Jr 25.1-38). O povo de Judá passou 70 anos cativo na babilônia, e havia retornado por um decreto real que ninguém esperava. Em 543 A.C. a primeira leva de judeus retornou para Israel sob a liderança de Zorobabel conforme Ed 5.14. Deus cumpriu a sua palavra e 43.360 judeus, sem contar os servos, (Ed 2.64-65) retornaram a sua pátria amada a fim de reconstruí-la. Entre setembro e outubro daquele mesmo ano foi comemorada a festa dos tabernáculos, ou das primícias, por consequência 50 dias depois a festa das colheitas, Ed 3.1-5, festa que Originou esse lindo salmo. Assim o poeta relembra esse fato em seu canto:


1 QUANDO O SENHOR libertou os judeus da escravidão,
   Nossa vida parecia um sonho!
2 Ríamos e cantávamos sem parar, de tanta alegria!
   E muitas nações, por toda a terra, reconheciam:
  "Que grande milagre o Senhor fez para os judeus!"


Esse milagre estava fresquinho na lembrança do povo. Um Deus que agiu de forma sobrenatural, entrando no cenário da história, era digno de confiança. Era através desse milagre passado que o salmista confiava que Deus mudaria o quadro da atual crise que o povo estava vivendo.



A crise no presente do salmista.


O salmo é escrito de uma perspectiva presente, mas faz referencia a um passado que trazia esperança para acreditar em um futuro de bênçãos, apesar de um presente nada favorável. O poeta sabe usar sua fé para ver além do presente de crise e projetar um futuro de bênçãos, Baseando em um passado em que pode ver a mão de Deus operar de forma poderosa um milagre, mesmo que a situação fosse contrária. Assim ele escreve:


3 É verdade! O Senhor fez grandes milagres por nós,
   E por isso estamos tão felizes!


Parece paradoxal, mas ele afirma com todas as palavras “estamos felizes”. A crise presente não foi capaz de roubar a alegria daquele povo durante a festa das primícias. 50 dias depois viria a festa das colheitas. Mas Parecia que as primeiras safras não iram trazer uma colheita satisfatória para aquele fim ano e para o ano seguinte. Assim o poeta exerce sua fé, sem perder a alegria e voltasse para o Senhor e ora:

.

4 Ó Senhor, enche novamente a nossa vida de bênçãos,
   Como as chuvas do inverno enchem os riachos secos do sertão, de Judá.


É na crença que DEUS intervém na história do seu povo que o salmista pode expressar com ousadia sua confiança.



Riso ou choro o que escolher?


Provavelmente a alegria descrita no verso 3 não era unanimidade. Por isso o poeta conforta e estimula o povo a crer em Deus E contrasta a tristeza presente com a alegria passada, e com a alegria futura. Cantando em voz alta diante de todo o povo na festa:


5 Quem planta as sementes chorando
   Colherá as espigas com gritos de alegria.


A através da repetição de ideias paralelas, característica da poesia hebraica, o salmista reitera sua confiança e canta:


6 Quem sai com a cesta de sementes chorando enquanto anda,
   Voltará carregado de feixes de espigas, gritando de alegria!



Assim termina essa linda poesia canção do festival da colheita de Israel. Um contrate entre o choro presente e os risos que estavam por vim no futuro, e na mente a lembrança de um milagre recente que atestava o cuidado de Deus pelo seu povo. O verdadeiro festival da fé no tempo da crise.



Conclusão.


Esse belo salmo nos ensina a olhar para o passado e ver os milagres que Deus tem feito em nossas vidas. Nossas limitações humanas insistem em nos mostrar os fatos presentes que anunciam um fracasso futuro. Porém Lembremo-nos das maravilhas que Deus fez por nós. Devemos confiar e crer contra a esperança como fez Abraão.

O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência.
E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, E estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer.
Romanos 4:18-21


 A mão de Deus agirá em nosso favor e nos dará a vitória futura que tanto desejamos. Deixemos o desespero, a desconfiança e tristeza de lado e confiemos nas promessas divinas. 



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