SALMO 24: BUSCANDO A JUSTIÇA DE DEUS NO SEU TEMPLO.
1 Um salmo de Davi:
Do
SENHOR é a terra e tudo o que nela existe,
O
mundo e os seus habitantes.
2 Ele próprio fundou-a sobre os mares
2 Ele próprio fundou-a sobre os mares
E
firmou-a sobre os rios.
3 Quem pode subir ao monte do SENHOR?
3 Quem pode subir ao monte do SENHOR?
Quem
pode ficar de pé no seu santo lugar?
4 Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro,
4 Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro,
E
não se entrega à mentira,
Nem
age com falsidade.
5 Este receberá do SENHOR a bênção,
5 Este receberá do SENHOR a bênção,
e
Deus, o seu Salvador, lhe fará justiça.
6 Estes são aqueles que o buscam,
6 Estes são aqueles que o buscam,
Que
procuram a tua face como Jacó, ó Deus.
7 Levantai, ó portas, os vossos frontões;
7 Levantai, ó portas, os vossos frontões;
Abram-se,
ó antigos portais, para que entre o Rei da Glória!
8 Quem é o Rei da Glória?
8 Quem é o Rei da Glória?
É o
Eterno, o poderoso e valente.
Deus
forte, o bravo das guerras.
9 Levantai, ó portas, os vossos frontões;
9 Levantai, ó portas, os vossos frontões;
Abram-se,
ó antigos portais, para que entre o Rei da Glória!
10 Quem é o Rei da Glória?
10 Quem é o Rei da Glória?
É
o SENHOR dos Exércitos: Ele é o Rei da Glória!
INTRODUÇÃO
A
tradição incorporada ao salmo atribui sua autoria a Davi. Sendo Assim esse
salmo deve ter sido escrito por volta do século X a.C. Alguns defendem que ele tenha sido escrito na ocasião em que Davi levou a arca para Jerusalém
como descrito em 2 Sm 6. Porém, no texto do próprio salmo isso não é evidente, pois não
há nenhum elemento, ou citação direta, ou mesmo indireta, nele que confirme
essa hipótese. Essa ideia na verdade ganhou força após a reforma protestante
que gerou o vício injustificado de atribuir muitos salmos a vida de Davi e a
eventos específicos descritos nos livros de Samuel, reis e crônicas. Mas são poucos os
salmos que descrevem a situação históricas nas quais foram compostos. Para
determinar o contexto histórico de um salmo, devemos buscar indícios e
evidencias no próprio salmo e não em textos externos a ele. No 24 não há
evidencias de um momento histórico especifico, Mas indícios que o liga as
tradições relacionadas ao templo erguido por Salomão, como podemos ver no verso 3
em que é citado o monte do Senhor, provavelmente Sião onde estava erguido o
templo, embora alguns entendem que o monte do Senhor aqui é uma alusão ao Sinai
o monte ao qual Deus entregou as tabuas da lei a Moises durante o Êxodo. No
verso 6 há referência a uma geração, povo ou raça no caso, que busca o Senhor o
que pode fazer referência as grandes caravanas de peregrinos que vinham a
Jerusalém por conta das festas sagradas. Também a referência as portas
sagradas, no v.7, que podem facilmente ser entendidas como as portas de
Jerusalém ou mesmo as colunas do templo. A pergunta Chave no verso 3 pode ser
decisiva para entendemos qual o contexto histórico desse salmo. “Quem Subirá ao
monte do Senhor?”. Essa expressão pode fazer referência a uma pergunta de efeito moral
feita aos peregrinos que vinham a Jerusalém por ocasião das celebrações
religiosas, para que eles refletissem sobre o verdadeiro significado de servir ao Senhor. Mas também pode ser alusiva ao evento do monte Sinai descrito no
livro de Êxodo no qual Deus se revelou de forma sobre natural e só Moisés pode
subir ao monte ao encontro do Senhor. Mas, se pensarmos bem, Havia duas
festividades em que essas referencias e hipóteses convergem: A festa da Páscoa e a Festa dos tabernáculos, ambas relembravam a saída do Egito, a peregrinação de Israel durante 40 anos no
deserto e o recebimento da lei, que terá trechos citados direta ou indiretamente nessa canção partindo das tradições deuteronômicas. Se Davi realmente escreveu esse Salmo, possivelmente ele o fez para atrair a atenção do povo para o templo que substituiria o tabernáculo na adoração a IWHW. Podemos concluir então:
AUTORIA: Davi
DATA: Século X a.C.
CONTEXTO HISTÓRICO: Esse salmo foi
escrito para se usado na festa da Páscoa ou na festa dos Tabernáculos para legitimar o templo em Jerusalém como novo local de culto ao Deus de Israel em substituição a tenda sagrada.
COMENTÁRIO.
Davi começa seu
poema fundamentando a moral divina no direito legal que o senhor tem de criador
de todas as coisas, assim como Moisés o faz. Então logo ele abre seu poema com
clausula de deuteronômio:
“Do
Senhor é a terra e tudo o que nela existe,
O
mundo e os que nele vivem.
Pois
foi ele quem fundou-a sobre os mares
E
firmou-a sobre as águas” Salmos 24:1-2
No
versículo 1 Davi faz uma citação direta de deuteronômio capitulo 10.14 que
afirma:
“Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor teu Deus, a
terra e tudo o que nela há.” Deuteronômio
10:14
Esse salmo faz uma
referência direta ao livro de deuteronômios. Perceba o questão da moralidade
abordada nele e compare com os versículos de 14 ao 21 do capitulo 10.
Eis que os céus e os céus
dos céus são do Senhor teu Deus, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente
o Senhor se agradou de teus pais para os amar; e a vós, descendência deles,
escolheu, depois deles, de todos os povos como neste dia se vê. Circuncidai,
pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz. Pois o
SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande,
poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas;
Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e roupa.
Por isso amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Ao
Senhor teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome
jurarás. Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e terríveis
coisas que os teus olhos têm visto.
É clara a referência
desse salmo a este capítulo de deuteronômio. Davi tenta reproduzir no seu poema a sentença deuteronômica “do Senhor é o
céus e sua plenitude”. Juntamente, Esse belo Salmo inicia com uma
breve alusão a Criação, Exaltando o Senhor como criador do mundo. Nas festas sagradas era muito comum rememorar as histórias contidas nos
livros da Lei. As narrativas de Criação eram constantemente relembradas pelo
imaginário popular através das histórias contadas pela oralidade popular e dos
cânticos entoados. Assim esse salmo bebe dessas fontes que citam e interpretam
os livros da Lei.
Com a declaração
legal de Deus como dono de toda a terra, Davi introduz o direito e a moral divina em seu
poema, Ou seja, toda ética universal e direito legal emana direto de Deus. Ele também Faz referência a Sião, o monte santo, que na época de Davi serviria
como local de construção do santo templo. O templo seria o lugar onde o nome do
Senhor seria invocado e glorificado. Davi não chegou a presenciar a construção
do Templo sobre o monte Sião. A tarefa de construção do templo foi incumbida a
Salomão seu herdeiro. Porém Davi exige daqueles que subiriam ao santo monte
para adorar o santo nome do senhor, quando o templo estivesse erguido, Um
caráter moral irrepreensível. Assim ele escreve:
Quem
subirá ao monte do Senhor?
Ou
quem estará no seu lugar santo?
Aquele
que é limpo de mãos e puro de coração,
Que
não entrega a sua alma à vaidade,
Nem
jura enganosamente. Salmos 24:3-4
A expressão acima evoca
tanto no público primitivo quanto no público contemporâneo uma resposta, um posicionamento,
diante de um Deus tão Santo. É uma clara referência a Ex 19.10, quando o Senhor
ordena ao povo que se Santifique para que o encontre ao pé do monte Sinai para
que recebessem a lei. Mas também vemos uma ressignificação na ordem original dada em Êxodo.
Pois, nesse poema, 3 coisas especificas são exigidas para se ter acesso a presença
gloriosa do Senhor: Mãos limpas, pureza de coração e cumprimento dos juramentos.
O caráter moral
irrepreensível era a condição básica para o adorador ir ao santo templo e lá,
receberia as bênçãos divinas. Naquele santo local escolhido pelo Senhor, o servo
de Deus poderia levar todas as suas causas Jurídicas afim de obter solução de
suas pendencias. O templo seria o Local onde a justiça deveria ser exercida
como um verdadeiro tribunal, Um juizado especial de Justiça divina. O salmista afirma:
Este
receberá a bênção do Senhor
E a
justiça do Deus da sua salvação.
Como a lei ordenava,
conforme escrito em Deuteronômio 16.18, as portas das cidades deveriam ser
transformadas em tribunais públicos onde as causas dos Israelitas deveriam ser
jugadas pelos Levitas e pelos sacerdotes:
Juízes
e oficiais porás nos portões de todas as tuas cidades que o Senhor teu Deus te
der entre as tuas tribos, para que julguem o povo com juízo de justiça.
Deuteronômio 16.18
Porém as causas difíceis Deveriam ser
levadas a um lugar especifico onde o próprio Deus escolheria:
“Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo, entre sangue
e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, em questões de
litígios nas tuas portas, então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher
o Senhor teu Deus; E virás aos sacerdotes levitas, e ao juiz que houver
naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a sentença do juízo. E farás
conforme ao mandado da palavra que te anunciarem no lugar que escolher o
Senhor; e terás cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem.” Deuteronômio
17:8-10
O
templo foi o Lugar onde O senhor escolheu para por ali o seu nome:
Estejam
os teus olhos voltados dia e noite para este templo, lugar do qual disseste que
nele porias o teu nome, para que ouças a oração que o teu servo fizer voltado
para este lugar.
Assim as portas do
templo santo tornar-se-ia o Local onde as causas difíceis ao homens seriam
levadas afim de serem resolvidas. As portas do templo teriam um destaque
importantíssimo como o tribunal de causas difíceis e impossíveis. Assim Davi
anuncia o grande Juiz de toda terra que é Justo e não pode ser corrompido:
Levantai,
ó portas, as vossas cabeças;
Levantai-vos,
ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.
Quem é
este Rei da Glória?
O
Senhor forte e poderoso,
O
Senhor poderoso na guerra.
Levantai, ó portas, as vossas cabeças,
Levantai, ó portas, as vossas cabeças,
Levantai-vos,
ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória.
Quem é
este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos,
Ele é
o Rei da Glória
Salmos 24:7-10
Salmos 24:7-10
As portas que eram
uma espécie de tribunal supremo para os Israelitas dos tempos bíblicos. Elas São
convidadas Poeticamente por Davi a levantarem as faces e contemplarem o Grande
Juiz, a fonte de toda moral.
Historicamente,
os Portais (ou portas) das cidades, ou dos templo, no antigo oriente eram o
local onde estavam postos os tribunais públicos e onde se julgava todo o tipo
de pendências judiciais, além atestações, emissão de certificados e testemunho
de compra e venda de produtos diversos. Por exemplo, Josias foi apresentado
legalmente como rei as portas do templo:
E os da guarda se puseram, cada um com as armas na mão, desde o
lado direito da casa até ao lado esquerdo da casa, do lado do altar, e do lado
da casa, em redor do rei. Então Joiada fez sair o filho do rei, e lhe pôs a
coroa, e lhe deu o testemunho; e o fizeram rei, e o ungiram, e bateram as palmas,
e disseram: Viva o rei! E Atalia,
ouvindo a voz dos da guarda e do povo, foi ter com o povo, na casa do Senhor.
Nas
portas também eram onde ficava as feiras livres e o comercio de diversas
mercadorias. Assim os pórticos das cidades eram o lugar de grande fluxo de pessoas. É
provável que o autor do salmo tivesse em mente a imagem de um rei que
atravessando as portas da cidade e todas as pessoas que ali estivessem
contemplando seu rei triunfante. A expressão levantais o portas vossas cabeças
seria uma expressão que tomaria a parte pelo todo, ou seja uma metonímia. Outra
opção é supor que os portais eternos sejam alusivas as duas colunas principiais do
templo, Jaquim e Boaz (2 Rs 7.21). Essas colunas tinham esses dois nomes escritos que
serviam de testemunho. A imagem nesse caso seria uma metafórica e hiperbólica
na qual até essas duas colunas prestariam referência diante de Deus.
CONCLUSÃO
Com esse salmo Davi
procura mostrar o santo templo, que seria erguido futuramente por Salomão seu filho, como o local onde o grande Juiz jugaria as causas difíceis dos homens.
O templo seria o local onde as grandes caravanas de peregrinos viriam, por
ocasião das festas da Páscoa e da festividade dos Tabernáculos, buscar a justiça de Deus e a
solução de seus problemas pessoais. Porém também era exigido que esses
peregrinos correspondessem com santidade, pureza de coração e honestidade a
santidade de Deus. Partindo de uma visão neo testamentária, podemos ver a figura de Jesus glorificando entrando em Jerusalém Celeste, triunfante sendo glorificado por uma multidão de anjos.
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