segunda-feira, 19 de junho de 2017

Salmo 102 - A canção do pelicano no deserto e do pardal solitário.

Salmo 102 - A canção do pelicano no deserto e do pardal solitário.




SOFRIMENTO PESSOAL PELO ESTADO PRESENTE DE JERUSALÉM.

SENHOR,  ouve a minha oração,
e chegue a ti o meu clamor.
2 Não escondas de mim o teu rosto no dia da minha angústia,
inclina para mim os teus ouvidos;
no dia em que eu clamar, ouve-me depressa.
3 Porque os meus dias se consomem como a fumaça,
e os meus ossos ardem como lenha.
4 O meu coração está ferido e seco como a erva,
por isso me esqueço de comer o meu pão.
5 Por causa da voz do meu gemido
 os meus ossos se apegam à minha pele.
6 Sou semelhante ao pelicano no deserto;
sou como uma ave entre as ruinas.
7 Não consigo dormir,
sou como o pardal solitário no telhado.
8 Os meus inimigos me afrontam todo o dia;
os que se enfurecem contra mim têm jurado contra mim.
9 Pois tenho comido cinza como pão,
e misturado com lágrimas a minha bebida,
10 Por causa da tua ira e da tua indignação,
pois tu me levantaste e me arremessaste.
11 Os meus dias são como a sombra que declina,
e como a erva me vou secando.


ESPERANÇA DE RESTAURAÇÃO

12 Mas tu, Senhor, permanecerás para sempre,
a tua memória de geração em geração.
13 Tu te levantarás e terás piedade de Sião;
pois o tempo de te compadeceres dela,
o tempo determinado, já chegou.
14 Porque os teus servos têm prazer nas suas pedras,
e se compadecem do seu pó.
15 Então os gentios temerão o nome do Senhor,
e todos os reis da terra a tua glória.
16 Quando o Senhor edificar a Sião,
aparecerá na sua glória.
17 Ele atenderá à oração do desamparado,
e não desprezará a sua oração.
18 Isto se escreverá para a geração futura;
e o povo que se criar louvará ao Senhor.
19 Pois olhou desde o alto do seu santuário,
desde os céus o Senhor contemplou a terra,
20 Para ouvir o gemido dos presos,
para soltar os sentenciados à morte;
21 Para anunciarem o nome do Senhor em Sião,
e o seu louvor em Jerusalém,
22 Quando os povos se ajuntarem,
 e os reinos, para servirem ao Senhor.


RECONHECIMENTO DA MISERICÓRDIA E FAVOR DO SENHOR.

23 Abateu a minha força no caminho;
abreviou os meus dias.
24 Dizia eu: Meu Deus, não me leves no meio dos meus dias,
os teus anos são por todas as gerações.
25 Desde a antiguidade fundaste a terra,
e os céus são obra das tuas mãos.
26 Eles perecerão, mas tu permanecerás;
todos eles se envelhecerão como um vestido;
como roupa os mudarás, e ficarão mudados.
27 Porém tu és o mesmo,
e os teus anos nunca terão fim.
28 Os filhos dos teus servos continuarão,
e a sua semente ficará firmada perante ti.


INTRODUÇÃO

TEMA: A comunidade pós exílica lamenta pelo templo que está destruído e por Jerusalém que está abandonada.
DATA: 500 a 400 a.C.
AUTOR: Desconhecido.


O salmo apresenta uma figura bastante comum no saltério, porém pouco reconhecida por muitos pregadores e expositores, a saber, “o orante representante”. Em outras palavras, “aquele que ora em lugar de toda uma comunidade”. Seu sentimento e angustia são  comuns a toda uma comunidade, ele representa todo um povo que chora e lamenta. Percebe-se isso a partir do verso 12. Dos versos 1 ao 11, aparentemente o salmista está passando por algum problema pessoal, porém o verso 12 revela que seu sofrimento é pelo estado de abandono e degradação da cidade de Jerusalém e em especial pelo templo do Senhor. Ambos estão em escombros, v.14. Mas o retorno do cativeiro babilônico renovou as esperanças do povo de Israel. O tempo de reconstrução de Jerusalém e do templo era chegado, v.13. Esse salmo representa muito bem o contexto dos dias de Neemias. É bem provável que a figura de Neemias abalado e depressivo (Ne 2.2,3) seja uma imagem referencia para o poeta escrever os 11 primeiros versos desse salmo. O inicio do salmo lembra muito a oração de Neemias, Ne 1.5-11. Dessa maneira este salmo pode ter a escrita datada entre 500 e 400 a.C. O cântico é um memorial para as gerações futuras como ele mesmo indica, v. 18, provavelmente para ser cantado na festa dos tabernáculos. Apesar de descrever um estado atual, sua finalidade é que a geração  futura fosse lembrada de que Jerusalém um dia fora destruída e lançada ao pó. Todavia o Deus dos céus concedeu misericórdia e permitiu que ela fosse reerguida. Por isso, o povo presente nas festas sagradas, devia louvar e adorar ao Senhor.



COMENTÁRIO.

O cântico é iniciado como um clamor para que Deus ouça a oração do poeta.
SENHOR, ouve a minha oração,
e chegue a ti o meu clamor.
2 Não escondas de mim o teu rosto no dia da minha angústia,
inclina para mim os teus ouvidos;
no dia em que eu clamar, ouve-me depressa.

O poeta procura descrever o sentimento de sua comunidade em termos pessoais, Para que cada adorador em Jerusalém fosse lavado a um sentimento também pessoal pelo estado anterior de Jerusalém. Ele lembra aos presentes na festa que uma vida sem a presença de Deus é passageira e sem sentido.

Porque os meus dias se consomem como a fumaça,
e os meus ossos ardem como lenha.
4 O meu coração está ferido e seco como a erva,
por isso me esqueço de comer o meu pão.
5 Por causa da voz do meu gemido
os meus ossos se apegam à minha pele.

A vida do adorador só tem sentido em razão ao servir a Deus. O quadro depressivo descrito nos versos 4 e 5 são uma metáfora para descrever uma vida distante da adoração em Jerusalém. Um verdadeiro adorador sente uma angustia em sua alma por ver o estado atual de Jerusalém. Através de um paralelismo sinonímico ele descreve tal sentimento através de três aves:

Sou semelhante ao pelicano no deserto;
Sou como uma ave entre as ruinas.
7 Não consigo dormir,
Sou como o pardal solitário no telhado.

Como uma ave fora do seu habitar natural, como um pássaro entre os escombros que emite seu som ao léu, sem nenhum significado, sem ninguém para ouvir, ou como um pardal que grita com insônia em cima do telhando procurando compartilhar a sua angustia em vão, assim se sentia o salmista ao ver sua amada cidade e o templo do senhor em pedras.
Como se não bastasse ver ao chão o templo do Senhor, Os samaritanos debochavam e brincavam com os pobres judeus aparentemente abandonados por seu Deus, clamando e lamentando entre os tijolos despedaçados do templo.
  
8 Os meus inimigos me afrontam todo o dia;
os que se enfurecem contra mim têm jurado contra mim.
9 Pois tenho comido cinza como pão,
e misturado com lágrimas a minha bebida,
10 Por causa da tua ira e da tua indignação,
pois tu me levantaste e me arremessaste.
11 Os meus dias são como a sombra que declina,
e como a erva me vou secando.

Mas o Senhor ainda é Deus. Seu nome e seus feitos ainda estão na memoria dos seus servos.

Mas tu, Senhor, permanecerás para sempre,
a tua memória de geração em geração.

Assim eles podem confiar que ele restaurará a Israel. Dar-lhes forças para erguerem novamente a Jerusalém e o templo. Assim eles podem declaram pela fé que o tempo chegou:

Tu te levantarás e terás piedade de Sião;
pois o tempo de te compadeceres dela,
o tempo determinado, já chegou.

Os que não tinham fé olhavam para os escombros e viam só pedras. Mas Servos do senhor viam o material do qual Deus se utilizaria para devolver a Jerusalém aos seus servos. O que para os samaritanos era motivo de escarnio, para Os Judeus era motivo para crerem ainda mais que Deus era poderoso.

14 Porque os teus servos têm prazer nas suas pedras,
e se compadecem do seu pó.
15 Então os gentios temerão o nome do Senhor,
e todos os reis da terra a tua glória.

Deus é fiel. Quando muitos acreditavam que aquelas pedras eram as provas do fracasso de Israel, Para Os judeus, eram a evidencia de que Deus iria agir em seu favor. Quando as nações vissem, o que os judeus já contemplavam pela fé, iriam se render aos pés o Deus de Israel.

Quando o Senhor edificar a Sião,
aparecerá na sua glória.
17 Ele atenderá à oração do desamparado,
e não desprezará a sua oração.

O salmista pede para que este feito seja lembrado entre as gerações que hão de vir.

18 Isto se escreverá para a geração futura;
e o povo que se criar louvará ao Senhor.
19 Pois olhou desde o alto do seu santuário,
desde os céus o Senhor contemplou a terra,
20 Para ouvir o gemido dos presos,
para soltar os sentenciados à morte;

A experiência ruim sofrida pela geração dos pós exílio deve ser lembrada pelas próximas gerações para que se saiba que o Senhor é poderoso e misericordioso. Experiência passada serviria de consolo e alegria para a geração futura. O salmista volta seus olhos para o futuro e vê uma grande multidão que louvaria ao Senhor. As pedras atuais, são vistas como uma cidade edificada onde as gerações futuras adoram e celebram ao Senhor em Sião.
Para anunciarem o nome do Senhor em Sião,
e o seu louvor em Jerusalém,
22 Quando os povos se ajuntarem,
e os reinos, para servirem ao Senhor.

Não só os Israelitas futuros, mas todas as nações são vistas adorando ao Senhor em Jerusalém. O poeta profetiza Jerusalém como a capital mundial do louvor a Deus. O que aponta para o milênio, quando Cristo estabelecer seu reino sobre a terra por ocasião de sua vinda.
O cântico retorna a linguagem inicial de lamento pessoal, apontando para seu encerramento.

Abateu a minha força no caminho;
abreviou os meus dias.
24 Dizia eu: Meu Deus, não me leves no meio dos meus dias,
os teus anos são por todas as gerações.

Dessa forma o salmista poeticamente contrapõe a natureza humana, frágil e debilitada, a natureza divina que é eterna e inabalável. Deus é eterno os homens são passageiros. Dessa forma ele ressalta a promessa divina em restaurar Jerusalém.

25 Desde a antiguidade fundaste a terra,
e os céus são obra das tuas mãos.
26 Eles perecerão, mas tu permanecerás;
todos eles se envelhecerão como um vestido;
como roupa os mudarás, e ficarão mudados.
27 Porém tu és o mesmo,
e os teus anos nunca terão fim.
28 Os filhos dos teus servos continuarão,
e a sua semente ficará firmada perante ti.

O salmo é concluído com uma promessa futura de que Deus manteria firmada a semente de israel. As gerações que viriam e celebrariam na Jerusalém já reedificada, poderiam adorar e ter a certeza que o Senhor jamais os abandonaria.


Conclusão.


Deus é poderoso. O que para muitos pode ser a evidencia de sua derrota pessoal, para Deus é a prova que ele agirá em seu favor. Ele concederá a vitória aquele que o teme. As suas bênçãos se estendem sobre a geração daquele que busca a sua face e cumpre a sua palavra. Que a nossa fé esteja além das circunstancias atuais, como o poeta do salmo 102. E que contemplemos pela fé as bênçãos do senhor sobre nós e nossa família, não só no presente mais também no futuro.