quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

SALMO 1 - Bem aventurado aquele que marcha

       Historicamente o livro dos salmos é a junção de 5 livros distintos. O primeiro livro vai do salmo 1 ao salmo 41. Nesse primeiro livro prevalece uma linguagem moralizante onde os leitores incentivados e estimulados a viverem uma vida santa e justa. Podemos perceber isso já no primeiro salmo:

Salmos 1

1 BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
2 Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
3 Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
4 Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
5 Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
6 Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.


              A fórmula poética “bem aventurado” que inicia esse salmo na verdade no original é uma partícula equivalente a uma exclamação.  Muitos comentaristas  sugerem que uma tradução mais correta desse termo do original para o português seria: “oh, quão bem aventurado!”. Expressando assim mais enfaticamente a poeticidade desse termo.

             No salmo em questão a tradução para português, do versículo inicial, esconde a poesia do texto. Como acontece em o livro dos salmos na versão de João ferreira de Almeida em que a ênfase está nas transliteração  das palavras e da gramática, não na forma poética. Vamos tentar resgatar a poesia desse texto inicialmente.

PRIMEIRO:  A poesia hebraica é construída sob paralelismo de idéias e  linhas poéticas.
Observe o exemplo do salmo 96 versículos 10 e 11


11                                           Alegrem-se os céus, e regozije-se a terra;                  linha 1
                                                      Brame o mar e a sua plenitude.                             linha 2
12                                        Alegre-se o campo com tudo o que há nele;                linha 3
                                          Então se regozijarão todas as árvores do bosque,         linha 4


         Observe as idéias paralelas entre duas primeiras linhas e as duas últimas. Perceba que os termos e as imagens são diferentes (céu, terra e mar nas 2 duas primeiras e campo e arvores nas 2 ultimas) mas as idéias são as mesma, o louvor a deus é visto na natureza. Além do que uma dualidade entre a primeira e segunda linha (céu em oposição a terra e terra em oposição ao mar mais as ações são as que dão sentido as expressões as mesmas, alegrar-se, regozijar-se e bramar são colocados no texto como sinônimos assim repetindo a mesma idéia.

Alegrem-se os céus,
e regozije-se a terra;
Brame o mar e a sua plenitude.

      É claro que a poesia hebraica não consiste em dizer a mesma coisa com palavras diferentes, as idéias podem se completar, se opor ou ser acrescida pelas imagens, figuras e palavras que denotam ação.

SEGUNDO: Voltando ao salmo 1, vemos uma idéia que se opõe e cresce.

           A palavra hebraica traduzida por bem aventurado (éser) é uma palavra derivada de outra palavra que traduzindo literalmente seria marchar harmoniosamente (asar ou aser), ou ainda seguir em linha reta, ou aquilo que é reto e equilibrado. Trazendo a idéia de uma continuidade constante. Então fazendo uma tradução livre, porém que resgatando a poesia no texto teríamos o seguinte:

ÓH, como marcha bem
Aquele que não caminha seguindo a opinião dos maldosos
Não para na estrada dos pecadores
Nem se senta para conversar com os falam maldades.

               Perceba a idéia de oposição entre o justo e o ímpio e essa idéia cresce com os termos marchar, caminhar parar e sentar! Ai é que está a linda poesia hebraica.


                 O Justo ele é feliz por que marcha, caminha de forma ordenada, harmoniosamente equilibradamente em linha reta em quanto o ímpio simplesmente caminha. O justo persevera e não para na estrada se expondo ao perigo. E por último não se distrai não aceitando o convite para pernoitar e jantar com pessoas que aparentemente são boas mais são na verdade são pessoas não tem pudor naquilo que falam.

          Lembrando que este salmo como a grande maioria era entoado nas festas sagradas dos judeus (a páscoa, a festa do pentecostes, o próprio sábado etc...) e grande maioria dos judeus faziam peregrinação das cidades ou lugares onde residiam para Jerusalém, local onde estava o santo templo. Então este salmo trás como referência essa peregrinação.
          Fica para nós, cristãos, uma reflexão não sobre uma peregrinação literal, mas uma caminhada espiritual a Jerusalém celeste.